a2000-08

JUSTIÇA, JORNALISMO, MAFIA ...

Carjp7 : CARTAS ABERTAS AOS RESPONSÁVEIS PELA JUSTIÇA EM PORTUGAL

N.7 ASSUNTO: PARABÉNS! CONTINUEM … OU CORREM O RISCO DE SEREM JULGADOS PELA OPINIÃO PÚBLICA ...

Itália, 01.08.2000

Estive em Portugal depois de meio ano de ausência e fui informado que o novo Ministro da Justiça está a fazer grandes progressos. Parece que algumas das fantochadas e injustiças da Justiça que eu descrevo no meu livro "BÍBLIA DA NOVA JUSTIÇA" (em preparação e já na Internet: http://members.xoom.it/jiimm/lb.htm ), já passaram à História. Parabéns e espero que continuem para eu não ter de vir a ser condenado por ofensas ao bom nome da Justiça. Repito o que já disse: se não criarem condições de eu vir a receber justiça por meios legais considerarei a Justiça tradicional injusta e fantoche: injusta porque castiga ainda mais as vítimas dos ladrões vigaristas e criminosos; fantoche se não fizer justiça quando um grande ladrão, vigarista e criminoso è também um grande advogado.

Entrei num notário para fazer uma procuração e tive que estar de pé a copiar de uma parede o texto da procuração, num lugar de passagem em que tinha de perder continuamente o ponto onde estava. Uma simpática jovem apercebeu-se da minha dificuldade e ofereceu-se para me ditar parte do texto. Mesmo assim perdi meia hora mais umas horas de deslocações e esperas para uma coisa que com as tecnologias actuais se poderia fazer de minha casa em poucos minutos. Recordei um popular defensor dos direitos dos cidadãos em Itália que disse: "quando entramos num tribunal temos a sensação de retroceder um século". Espero que as novas tecnologias revolucionem os métodos tradicionais e se evitem tantas deslocações bichas e burocracias quando è necessário fazer algo de oficial. Parabéns aos políticos e responsáveis pela criação da "Loja do Cidadão" em Lisboa. Permite fazer numa hora muita coisa que tradicionalmente exigia vários dias com as consequentes deslocações, bichas, etc. Imagino que no futuro cada aldeia possa ter uma "mini-loja-do-cidadão" com um computador, um multibanco e talvez alguns impressos que ainda não possam ser substituídos por cartas magnéticas e envios electrónicos. Imagino que uma pessoa possa em poucos minutos evitar deslocações que custam dias com os respectivos transtornos para as pessoas e para a economia.

Entretanto descobri no balcão uma brochura do Ministério da Justiça sobre "RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS" e pensei logo que poderia ser um nome mais requintado para os "TRIBUNAIS DE BOM SENSO" que tanto tenho apregoado. Comecei a ler e tive a sensação de que ou os meus escritos estavam a produzir efeito ou havia coincidência de ideias:

A participação geral de todos os cidadãos não só "no exercício de reflexão e debate" e não só "até ao dia 15 de Julho de 2000" deveria ser uma constante de toda a função pública, à semelhança do que fazem as mais prósperas empresas privadas. Já 30 anos atrás, quando numas férias de estudante fui ganhar uns marcos numa fábrica de carros na Alemanha encontrei a cada canto umas caixas com impressos para se darem ideias e sugestões para o melhoramento da fábrica. As melhores ideias podiam ser premiados com quantias astronómicas de acordo com os benefícios que poderiam trazer ao bom funcionamento da fábrica. Se as empresas privadas dão prémios a quem as ajuda com as suas ideias muito mais a função pública e em especial o sistema policial e judicial deveriam premiar quem colabora. Precisamente ao contrário do que faz em geral o tradicional sistema policial e judicial que castiga quem se dispõe a colaborar. Parabéns a quem teve esta iniciativa mas continuem sem datas limites…

O Procurador Geral da República disse: "Espera-se então que saibamos encontrar outras dimensões processuais e que desarmemos pela nossa parte, as fronteiras das leis, dos métodos e das mentalidades. (…) È necessário um novo olhar sobre a Justiça". Se a Justiça não puser o bom senso de justiça acima de certas leis antiquadas ou que podem ser muito boas na generalidade mas não se devem aplicar a certos casos em que grandes advogados e grandes vigaristas as aproveitam para roubar legalmente e permanecer impunidos, correm o risco de fazer cair no ridículo o sistema legal e judicial. Um grande advogado está há mais de dez anos a gozar milhares de contos que levou com vigarices e ameaças em estilo mafioso. Como è um grande advogado e a "Justiça" tradicional aquilo que está à vista … mesmo condenado à prisão em Itália pode viver em Portugal sem ir para a prisão nem ser obrigado a pagar-me o que me deve.

Se não criarem outras leis ou condicionarem as existentes ao bom senso de justiça correm o risco de serem condenados pela opinião pública.

Lj

UM NOTICIÁRIO ITALIANO E COMENTÁRIOS

Um telejornal típico de Itália, ("Italia-1", " Studio Aperto" 10.08.2000, 12 h.), começou com notícias pela seguinte ordem: dois condenados à morte nos USA; 4 terroristas da ETA que morreram com a própria bomba quando a estavam a preparar para matar inocentes; o juiz presidente do tribunal de Lugano preso por corrupção: recebeu dinheiro e andava de férias com um boss da mafia, casou-se com a advogada do boss e tentou corromper um outro juiz para ajudar outro mafioso; um normal agricultor sem cadastro de 74 anos matou 4 vizinhos familiares num ataque de folia por causa de um muro para um galinheiro em frente à sua janela.

Esta ordem de prioridades numa televisão muito popular reflecte um jornalismo oposto às regras gerais admissível apenas numa cultura tipicamente italiana: a primeira norma da prioridade de uma notícia tem em conta a distância. Porque razão colocam a morte de dois criminosos no Texas em primeiro lugar e a morte de 4 (inocentes?) italianos em último lugar? Os criminosos condenados à morte eram raptores, violadores e assassinos. Serão mais simpáticos para a opinião pública italiana do que os terroristas separatistas da ETA ou os (inocentes?) italianos?

Quando a polícia veio prender o assassino dos vizinhos familiares não opôs resistência, não se mostrou arrependido, ao contrário mostrou-se satisfeito e disse que lhe tinha saído um peso do estômago, e se sentia aliviado pelo que fizera. Andava em guerra com os vizinhos por causa daquele muro e já tinha chamado a polícia para impedir a continuação alegando que um galinheiro ali deitava-lhe mau cheiro em casa. Os vizinhos respondiam que no terreno de sua propriedade faziam o que queriam. Os justiceiros deste género aparecem por falta de um sistema policial e judicial que faça justiça imediata e eficaz. Quantos crimes se evitariam com uma melhor justiça?

Embora as estatísticas digam que há em Itália mais de 50% favoráveis à pena de morte, não encontrei nenhum jornalista profissional ou político a defender a pena de morte. Apenas numa carta de um leitor apareceu a indignação por um político de uma região das mais mafiosas querer transformar um posto simbólico como quase um santuário contra a pena de morte colocando nos altares um assassino de várias pessoas e réu confesso de 17 violações que nos U.S.A foi condenado à pena de morte. Esta opinião do leitor aparecia abafada por uma nota da redacção condenando a pena de morte. Em minha opinião só uma cultura política e jornalística muito influenciada pela cultura mafiosa justifica todo este empenho em Itália contra a pena de morte nos USA enquanto a mafia mata muitos mais inocentes em Itália do que a pena de morte em meio mundo. Estes políticos e jornalistas que "santificam" os grandes criminosos elevando-os aos altares de quase "santos mártires" contribuem para a difusão da cultura mafiosa e criminal que acaba por causar muito mais vítimas inocentes do que se existisse a pena de morte condicional, isto è, condenação à pena de morte dos grandes criminosos caso não se arrependessem, convertessem, colaborassem contra a criminalidade ou voltassem a cometer algum crime grave. Penso que não há um crime que justifique a pena de morte, mas muitos justificariam a condicional: conversão ou morte.

È curioso como a condenação à pena de morte do vice-presidente do Parlamento Chinês por corrupção provocou menos reacção e menos defensores do que a condenação de alguns negros assassinos e violadores dos USA.

Df00.0816.

PRISÕES E JUSTIÇA

Numa prisão de Milão, 80% são extra-comunitários, ladrões e traficantes de droga. Para ser condenado à prisão por roubar em Itália è preciso roubar muito ou muitas vezes. Muitos ladrões apanhados em flagrante pela polícia são postos em liberdade pelos juizes no mesmo dia sem ao menos pagarem uma multa. Geralmente não devolvem o que roubam se não são apanhados em flagrante e pagam multas em torno aos 10% do valor roubado. Só 1% dos roubos são apanhados.

Sendo assim Itália um paraíso para os ladrões e proclamando-se orgulhosamente "o sistema penitenciário mais avançado do mundo" è natural que atraia ladrões de todo o mundo: Podem roubar com apenas 1% de probabilidades de serem apanhados, se não roubarem muito e passarem a um amigo nem sequer devolvem e se na pior das hipóteses forem para a prisão sempre estão melhor do que nas suas terras: não passam fome nem frio, têm água quente, os melhores hospitais e até podem receber mulher ou amante para fazerem amor.

Alguns roubam em dois de forma que um dá um estirão para roubar uma bolsa e atira-a a um cúmplice pronto a escapar. Mesmo que apanhem o que roubou não lhe podem fazer nada e depois repartem o valor do roubo.

Os prisioneiros custam à sociedade muito mais do que o custo médio dos honestos cidadãos, só com a sua saúde gasta-se em Itália o dobro ou triplo da média.

Será justo que os mais honestos contribuintes paguem tanto para os criminosos e deixem morrer ao frio inocentes? Será justo dar melhores condições a criminosos do que a inocentes esfomeados sem um abrigo? Todos os anos morrem muitos inocentes ao frio por não terem um tecto mas para os criminosos de Itália até os hospitais são dos melhores de Europa.

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O INGÉNUO, A ESPERTALHONA, AS LEIS E A JUSTIÇA

Uma jovem gostava provavelmente de um rapaz, conquistou primeiro o pai e talvez o tenha utilizado para fazer chantagem sobre o filho. A verdade è que o pai do rapaz pressionou o filho a casar-se com ela inclusivamente ameaçando-o de deserdá-lo se não se casasse com ela. Frente a essas pressões e para satisfazer o pai fez um contrato com a jovem: simulavam um casamento de comum acordo fictício, ela receberia um apartamento mas depois da morte do pai separar-se-iam anulando o casamento sem nenhum ter obrigações para com o outro.

O jovem viveu com ela como amigos durante dois anos, só uma vez fez amor após ela lhe fazer uma cena de sedução, (ela era muito bonita), colocou-lhe o apartamento em seu nome e após a morte do pai quis anular o casamento como estava estabelecido no contrato pré-matrimonial. Mas ela disse que aquele contrato pré-matrimonial não tinha valor, que o casamento se tinha confirmado porque tinham feito amor uma vez e portanto o casamento era válido e ela tinha direito a receber subsídio todos os meses, etc.

Muito provavelmente ela ou conhecia as leis, ou consultou um advogado, ou teve sorte: se não tivesse passado tanto tempo, se não tivesse cedido à tentação de fazer amor com ela uma vez e se tivessem pedido o anulamento dentro de um certo tempo declarando-o fictício poderia ser considerado nulo. Nestas condições o juiz deu-lhe razão a ela e não deu valor ao contrato que ambos tinham assinado.

Ambos fizeram um casamento fictício, um com honestidade e boas intenções: permitir ao pai uma satisfação dos últimos anos de vida e escapar a uma chantagem muito imoral; outra com secretas ambições: seduzindo-o e passando um certo tempo não só receberia o apartamento, pensão vitalícia, etc.

O bom senso de justiça não deveria estar acima de certas leis em certos casos?

 

Df00.08.22

PARA UMA FILOSOFIA DOS POLÍTICOS, JORNALISTAS E HISTORIADORES

Há mais de vinte anos nos bancos da universidade escrevi um trabalho que considerei revolucionário. Passou despercebido. Hoje vejo um título de um jornal com as mesmas ideias e apresentadas como uma revolução dos conceitos históricos:

"HITLER / NON UN PAZZO MA UN CARNEFICE VOLUTO DAL POPOLO / LO STORICO IAN KERSHAW: "I TEDESCHI HANNO PROIETTATO SU DI LUI I LORO DESIDERI. E NE SONO RIMASTI VITTIME" "

( "HITLER / NÃO UM DOIDO MAS UM CARNICEIRO QUERIDO DO POVO / O HISTORIADOR IAN KERSHAW: "OS ALEMÃES PROJECTARAM NELE OS SEUS DESEJOS . E FORAM VÍTIMAS DISSO" "). Cf.: "Corriere della Sera", 22.08.2000.

Naquele tempo corria a ideia de que o povo alemão foi hipnotizado e forçado por um ditador a entrar numa guerra louca e a cometer horrores inadmissíveis a seres humanos normais. Nessa altura esquecia-se que Hitler subiu ao poder com votações livres da maioria da população e que se os seus discursos tinham um poder hipnótico de galvanizar as massas isso se deve ao facto de ir ao encontro dos desejos psicológicos das massas. Foi o culto das massas que o estimulou e lhe permitiu tornar-se um grande ditador.

Estas ideias agora apresentadas por um historiador inglês, aparecem contestadas no dia seguinte no mesmo jornal por um historiador alemão. Naturalmente que o historiador alemão não pode deixar de ser de ser influenciado pela cultura do seu país em que viveu depois da guerra. E a cultura tem também o seu efeito narcótico das feridas psíquicas. Para a cultura alemã è mais tranquilizante atribuir o mal a um louco do que à loucura de um povo.

A História repete-se e em cada época se difundem as ideias que tranquilizam as consciências: após a queda do Nazismo era tranquilizante atribuir as culpas a um bode expiatório: Hitler. Em Itália "sepultaram" Mossulini com bode expiatório do fascismo, quase condenaram judicialmente Andreotti como responsável da política mafiosa do após guerra, e Craxi como símbolo da corrupção.

Os políticos são a projecção da sociedade: nazistas numa cultura nazista, mafiosos numa cultura mafiosa, vigaristas numa cultura de vigaristas. Os jornalistas, se querem vender os jornais, têm de ir ao encontro dos desejos da maioria, como os políticos de êxito, mesmo que temporário. Os historiadores, passadas as emoções fortes e distanciados da influência jornalística, recordam o passado tentando mostrar os erros a evitar e as virtudes a imitar ou estimular.

No auge do entusiasmo de Hitler e do povo alemão pela guerra, Einstein tentou opor-se pedindo assinaturas para o seu manifesto contra a guerra. Só teve duas assinaturas e acabou por ter de fugir. Um jornalista que tivesse as ideias de Einstein contra a guerra não encontraria jornal onde escrever ou seria perseguido. A História mostrou sem sombra de dúvidas que a maioria se enganou.

Se o espírito de Hitler não fosse ao encontro dos desejos profundos do povo alemão certamente ele não teria sido o influente político que foi. Há quem explique a exaltação guerreira do povo alemão na provocação e durante a Segunda Guerra Mundial por uma compensação a nível colectivo da frustração da Primeira Guerra Mundial. Tinham sido humilhados e procuravam vingança. Como uma doença psicológica colectiva.

Seja como for aos historiadores compete hoje tirar lições para o presente e futuro. O facto de um livro publicado agora na Alemanha dar títulos nos jornais italianos revela que o tema interessa a Itália.

Porquê este interesse jornalístico? Porque razão aquilo que eu escrevi há mais de vinte anos ficou perdido em arquivos e aparece agora nos títulos dos jornais italianos dito por um inglês? Serei um paranóico por pensar que aquilo que hoje escrevo e ninguém lê estará na base da maior revolução moral, filosófica, judicial, jornalística e social deste século?

Hoje ninguém se interessa pelo que eu escrevo. Não terá interesse ou não interessa a quem decide o que se deve publicar?

Por várias vezes tentei escrever artigos de opinião para um dos principais jornais de Portugal com muito espaço dedicado à opinião. Alguém com um curso superior disse-me a propósito de um grande artigo: "li-o todo e não percebi o que o autor queria dizer". Também eu o li e não percebi como um tal artigo era publicado num dos principais jornais. Estava cheio de termos técnicos com palavrões pouco usuais que envolviam grandes conceitos filosóficos desconhecidos do comum dos leitores. Falei com dois jornalistas desse jornal sobre o assunto e ambos me disseram que os artigos de opinião nesse jornal eram muito bem pagos e serviam para o Director fazer favores a quem queria.

Mas os directores de jornais não são todos corruptos e a verdade è que neste momento não encontro ninguém entusiasta, ou ao menos interessada no que eu escrevo. Consolo-me com as dificuldades que encontrou o pai de Anne Franc para publicar o seu diário, (pagou ele a primeira edição por não encontrar editor), com a dificuldade de José Saramago para publicar o primeiro romance e Einstein que só conseguiu duas assinaturas para o seu manifesto. As ideias têm o seu tempo. Mas talvez seja pena que muitas só sejam divulgadas e só encontrem ressonância fora do tempo. Se as ideias de Einstein contra a guerra tivessem encontrado ressonância no seu tempo talvez se tivesse modificado a História do mundo. Se o que disse o primeiro mafioso arrependido em 1937 fosse tido em conta, se o segundo fosse escutado em 1973 e fosse protegido em vez de metido num manicómio e depois posto em liberdade para que a mafia o matasse, talvez a História Italiana do final do século fosse muito diferente. Não só na Rússia se metiam no manicómio os que tinham ideias diferentes do partido do poder. Na Itália de Andreotti matavam-se os jornalistas que podiam ser um perigo para as suas relações com a mafia. Não digo que fosse ele a mandar. Nem era preciso. Bastava confessar a sua preocupação a um amigo.

Na televisão italiana pareceu uma grande reportagem sobre uma exposição dedicada a Anne Franc em que se salientou o facto de a Alemanha parecer querer esquecer os horrores de Hitler e do nazismo: uma grande percentagem de jovens alemães desconhecia os campos de concentração e holocausto do tempo de Hitler e do nazismo. Talvez na Alemanha se critique a cultura italiana por se ocupar mais das vítimas do nazismo e das vítimas da pena de morte noutros países do que dos horrores da mafia, terrorismo e criminalidade dentro das suas fronteiras.

Df00.08.25

MAFIA, JUSTIÇA, POLÍTICA E VALORES NAS CONFISSÕES DE UM PROTAGONISTA .

(Ideias principais do livro "ADDIO COSA NOSTRA / LA VITA DI TOMMASO BUSCETA, Rizzoli, Milano, 1994).

A mafia nasceu para fazer justiça. Agora que a mafia degenerou e existe um Estado que faz justiça colaboro para desmantelá-la pois deixou de ter sentido.

A mafia era uma sociedade secreta composta exclusivamente de pessoas com certos valores morais: "uomini d`onore". Nos primeiros tempos ninguém pensava sequer em matar um político, um juiz ou mesmo um polícia. Degenerou quando chegarram rios de dinheiro da droga e da corrupção política.

Salvo Lima, amigo de Andreotti, era filho de um "uomini d`onore". Fez-me alguns favores mas recusou dinheiro. A mafia votava todos os partidos excepto fascista e comunista mas o partido de referência era a DC de Andreotti, Salvo Lima e Ciancimino.

O primeiro "pentito", (arrependido da mafia que se dispõe a colaborar com a polícia), o médico Melchiorre Allegra, apresentou-se à polícia em 1937 e disse que fazia parte de uma organização secreta muito potente, com pessoas de todas as categorias sociais inclusive as melhores, descreveu o microcosmo criminal da Sicília com as respectivas famílias. Não teve a mínima consequência nem mesmo quando foi publicada no jornal de Palermo "L`Ora" em Janeiro de 1962. Em 1973, Leonardo Vitale, segundo "pentito" que traiu a mafia e contou à polícia os segredos da sociedade secreta de que fazia parte, foi metido num manicómio e assassinado logo que saiu. Só depois de muitas mortes, quando a indignação popular teve coragem de se manifestar pelas ruas, as confissões de Tommaso Busceta tiveram influencia.

Isto faz-me pensar: Quantas vidas de inocentes se salvariam se a mafia fosse realmente combatida logo que aquele médico apresentou a denúncia? Como seria diferente o mundo se uma verdadeira e eficiente justiça transformasse a actividade criminal em actividade produtiva e útil a sociedade? Quantas vidas humanas de inocentes se salvariam se a Itália em vez de estar na primeira linha contra a pena de morte na USA estivesse na primeira linha contra a mafia?

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MAIS UM MINISTRO DA JUSTIÇA EM RIDÍCULO DE JOELHOS FRENTE A SUA SANTIDADE A TERRORISTA

No dia 25.08.2000, aniversário da entrada em Itália da "santa terrorista" , volta às primeiras páginas dos jornais: O jornal "LA STAMPA" dá-lhe foto a cores na primeira página com o título: "UN ANNO A REBIBBIA / PEGGIO CHE IN AMERICA" (UM ANO NA PRISÃO ITALIANA / PIOR DO QUE NA AMÉRICA). Numa entrevista que ocupava quase uma página interior elogiava a prisão americana orientada para a recuperação e criticava a prisão italiana sobretudo por não poder trabalhar, consultar tanto a biblioteca, passear, receber tantas visitas, telefonar, frequentar a palestra etc.

No dia seguinte apareceu no mesmo jornal o ministro da Justiça a prometer melhorar-lhe as condições e satisfazer todos os desejos possíveis. Desculpava-se que devido aos acordos com América sobre a sua extradição nem tudo se poderia fazer.

Recordo a sua entrada triunfal em Itália com o secretário comunista a recebê-la com "um ramo de flores maior do que ele" e o então ministro da Justiça, também chamado "ministro da terrorista", a acompanhar a mãe ao aeroporto e desculpando-se de não poder realizar o seu desejo de ir à América para a acompanhar na viagem de regresso ao seu país …

Estes ministros da Justiça não sentirão o ridículo de se baixarem a tantas atenções com uma terrorista e tão pouca com as vítimas do terrorismo em Itália?

Dl00.08.28

JUSTIÇA, MAFIA E O VIP DOS VIPS

A minha intuição de que fazer justiça era a primeira finalidade da mafia, pelo menos no início, foi-me confirmada não só por Tina Lagostena Bessa, a juiz que mais admiro depois de Antonio Di Pietro, mas também pelas confissões de um dos principais protagonistas da mafia do século passado: Tommaso Buscetta. Quando Antonio Di Pietro meteu na prisão alguns dos políticos corruptos e Andreotti estava com o processo por acusa de mafioso, Buscetta acreditou na Justiça, decidiu colaborar e disse que se o Estado fizesse justiça a mafia não tinha razão de existir.

Inicialmente a mafia era uma sociedade secreta com os seus princípios "morais", grande respeito pelos seus "valores", e extrema intransigência para com os membros que não respeitassem esses "valores". Chamava-se mesmo "honrada sociedade" e os seus membros eram "homens com honra". N Sicília, uma ilha com a própria cultura e com governos distantes, a mafia era uma forma de governo autónomo que colocava na administração pública os seus representantes e por eles influía na política italiana: Salvo Lima e Ciancimino eram os intermediários entre a mafia e Andreotti. Os juízes que não respeitaram essas regras foram assassinados com as próprias famílias e guardas de corpo. Alguns dos principais políticos, polícias e jornalistas que não se deixaram corromper e lutaram contra a mafia foram assassinados ou ameaçados.

Esta "paz mafiosa" foi revolucionada quando o juiz António Di Pietro atacou as bases económicas, a corrupção política de alto nível.

Em Portugal, país de brandos costumes, não existe esta tradição mafiosa, mas existe outra em grande escala: as vigarices e a pequena criminalidade a um nível superior de Itália. Trabalhei muito em Itália sem contrato e só com acordo telefónico. Raramente tive problemas de pagamento. Em Portugal até um vip dos vips, um senhor muito conhecido da alta sociedade por organizar festas privadas com reis, secretários de partidos, filhos de presidentes europeus e muitas figuras famosas se permite de não pagar a um artista que contratou telefonicamente.

Recordo um espectáculo que fiz numa prisão e me sentei ao lado de um condenado por ter matado um vigarista que não lhe quis devolver o que lhe tinha roubado. Não sei se deve estar na prisão como um criminoso ou receber uma condecoração por ser um herói. Para um mundo melhor mais vale um castigo exagerado ao vigarista do que o prémio e a falta de justiça. Se as pessoas sabem que judicialmente não serão castigadas pelas suas vigarices continuam a fazer vigarices até que um lhes diz: "paga-me ou mato-te".

Se as vítimas dos ladrões, vigaristas e criminosos fossem ajudadas por um sistema policial e judicial eficiente evitavam-se muitos crimes. A maior frustração da minha vida está em saber que o fruto de muito do meu trabalho e sacrifícios está a alimentar ladrões, vigaristas e criminosos. Mas enquanto viver lutarei por justiça e desde já deixo o meu apelo para que a minha luta continue mesmo depois da minha morte.

Hoje escrevi a primeira carta ao vip dos vips. Outras se seguirão acompanhadas de cartas abertas e confidenciais aos responsáveis pela Justiça em Portugal. Se não colaborarem pior para eles: serão julgados pela opinião pública. Ou a Justiça passa a ser mais justa e eficiente ou apelarei para a opinião pública esperando que o seu bom senso contribua para premiar e castigar quem merece, educar a sociedade e contribuir para um mundo melhor.

Dlln00-08-31

JUSTIÇA, JORNALISMO, NOVA FILOSOFIA E LISTA NEGRA

Quase sempre quando a Justiça não funciona, ou funciona mal, surgem outros meios de se fazer justiça mais ou menos legitimados pela opinião pública. È um facto indiscutível que a mafia nasceu e teve como função primordial fazer justiça. A impunidade de pedófilos que violaram e mataram várias crianças originou grande indignação popular, grandes manifestações e jornais a publicarem a lista negra de pedófilos que por sua vez desencadeou perseguições, justiça popular e suicídios.

Isto levantou uma grande polémica judiciária e jornalística internacional sobre a legitimidade da divulgação dessa lista.

Sobre o assunto começo por apresentar as minhas ideias para uma Nova Filosofia ética e moral ao serviço de um mundo melhor: quando não è possível o melhor tolera-se o menos mau. O melhor seria se os sistemas judiciais punissem e reeducassem os menos honestos. A difamação não è uma virtude, mas pode tornar-se um acto de heroísmo se contribui para evitar a morte de inocentes.

Eu vou começar por fazer a minha lista negra de todos os ladrões, vigaristas e criminosos que não me pagarem o que me devem e não forem condenados pela Justiça. Primeiro recorrerei aos responsáveis pela Justiça pedindo-lhes que façam justiça. Se não conseguir pedirei à opinião pública que pressione os responsáveis pela Justiça para que façam justiça. Se tudo falhar e se eu não obtiver justiça em vida desde já deixo o meu apelo para que uma associação de vítimas de injustiças continue a lutar por justiça. Já fiz um testamento para que se não obtiver justiça em vida a luta continue depois da minha morte e sejam premiados os que lutam por justiça. Espero que isto contribua para que uma Justiça mais justa e eficiente evite injustiças e parasitas a viver do trabalho dos outros. Espero que uma verdadeira Justiça obrigue os menos honestos a pagarem não só as dívidas mas também uma indemnização por todos danos e trabalhos para se obter justiça. Se não conseguirem por meios judiciais desde já deixo o meu apelo para a sua divulgação da lista negra esperando que a opinião pública dê uma lição moral aos ladrões, vigaristas, criminosos e aos responsáveis pela Justiça que não cumprem o seu dever de fazer justiça.

Para saber mais:

 DF= "DIÁRIO FILOSÓFICO", (pensamentos, ideias, reflecções).

DL= "DIÁRIO DE LUTA POR JUSTIÇA E POR UM MUNDO MELHOR".

LB= "BÍBLIA DA NOVA JUSTIÇA".

LI = "ITÁLIA E SEUS QUERIDOS CRIMINOSOS".

LJ= "JORNALISMO PARA AMADORES E PROFISSIONAIS".

LZ= "O ZÉ JUSTO NO PAÍS DAS BANANAS". (Livro de ficção inspirado em factos reais da sociedade actual).