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"GRAFITS": ARTE OU PORCARIA? IGUALDADE, FUNÇÃO PÚBLICA, CORRUPÇÃO POLÍTICA E INCOMPETÊNCIA

Um psicólogo defende que os "grafits" desenvolvem a imaginação. Uma empreza de publicidade acredita na teoria deste psicólogo e contratou um desses artistas da rua que gratuitamente pintam os muros disponíveis para fazer grafits nas paredes dos escritórios.

Stefano Parisi, ("direttore generale del Comune di Milano"), afirma que gastarão 30 biliões de liras, (3.000.000.000$00) para limpar os "grafits" dos muros do "Comune" ("Spenderemo 30 miliardi in 3 anni per ripulire le faciate degli stabili del Comune" im "Famiglia Cristiana" N. 32, 15.08.1999, p.19). As emprezas de transportes públicos de Itália gastam fortunas para "limpar as porcarias dos grafits". Chegaram mesmo a instalar videocameras para apanharem os "criminosos". Uma adolescente com 14 anos de boa família foi apanhada. Ela defendeu-se dizendo que fazia arte. A família não queria que a sua filha tivesse uma condenação em tribunal e negociou para que ela fosse castigada limpando os grafits e repintando as paredes.

Eu pessoalmente prefiro ver uma parede com "grafits" do que em branco, um combóio com as carruagens todas diferentes cheias de cores contrastantes do que todo da mesma triste cor. Alguns "grafits" agradam-me mais à vista do que as eculturas de Botero, desenhos de Picasso ou o mais caro quadro de Van Gohg.

Se é verdade que os "grafits" desenvolvem a imaginação as emprezas públicas seriam muito mais úteis à sociedade se estimulassem as decoração dos "grafits" com concursos e prémios em vez de reprimirem. Talvez isso começasse por influenciar a criatividade nas emprezas públicas e inventassem formas de serem mais eficientes e mais úteis ao público.

Perdi dois dias, tive que ir a Milão duas vezes, só porque para levantar uma mala na alfandega devia preencher um impresso que não tinham nem me souberam ou não quizeram dizer onde se comprava. Se houvesse mais uns "grafits" nos transportes públicos e nas emprezas públicas talvez se desenvolvesse mais a imaginação e descobrissem que um simples papel dado ou vendido onde é preciso poderia evitar muita perda de tempo e despezas milhares de vezes superiores ao que poderiam custar. Durante toda uma tarde percorri Milão à procura de um papel que só serve para a alfandega e que seria lógico estar disponível na alfandega. Mas na função pública falta imaginação para verem isso e muito mais.

O papel que me tinha feito perder meio dia em Milão foi-me dado gratuitamente pela Italfrigo, (uma empresa privada de depósito de bagagens), precisamente no rés-do-chão por baixo da Alfandega onde o senhor que lia o jornal me disse que perto não encontraria aquele impresso e teria que vir o dia seguinte porque não teria tempo de procurar o papel e preenchê-lo. Para ele poder continuar a ler o seu jornal e atrazar o serviço para quem o substituisse no dia seguinte, duas pessoas perderam meio dia às voltas por Milão, suando com o calor de Agosto, poluindo, estacionando irregularmente e ficando um no carro enquanto o outro ia procurar o papel.

Este é só um pequeno exemplo dos custos que os mais honestos cidadãos pagam por causa da corrupção e incompetência na função pública. E esta deriva em geral directa ou indirectamente da corrupção política: os empregos são dados muitas vezes não em atenção à competência mas para pagar um favor. Em segundo lugar deriva da falta de prémios e castigos em função da honestidade e competência. O funcionário que faz bem o seu trabalho deveria ser premiado e o que o faz mal deveria ser castigado. Em Portugal existe o livro de reclamação na função pública. Em Itália pode reclamar-se por meio de um advogado que pode custar meio salário mínimo nacional. Imaginem um pobre que mal ganha para comer a dar metade do seu salário para reclamar que um incompetente da função pública lhe fez perder meio dia com uma má informação.

Talvez aqueles biliões empregues a limpar paredes fossem mais úteis a limpar as emprezas públicas de corruptos e incompetentes e a dar trabalho e prémios aos mais honestos cidadãos que tornassem os serviços públicos mais eficientes. Como aquele empregado ou chefe da alfândega que fez perder uma tarde a duas pessoas com a sua má informação e má vontade, há muitos outros que devem ser educados e estimulados. Para isso é fundamental castigar e premiar: baixar de categoria e reduzir os benefícios dos incompetentes e premiar os mais honestos e eficientes.

Quando há corrupção política e os empregos na função pública não dependem da eficiência toda a sociedade sofre as graves consequências.

A arte, o teatro popular sobretudo cómico, muitos espectáculos e manifestaçôes culturais em geral exercem muitas vezes uma função crítica dos valores e comportamentos anti-sociais e estímulo dos mais úteis socialmente.

Em Portugal, os mais honestos contribuintes pagaram com seus impostos a concorrência ao teatro de revista de forte crítica social, para surgir em sua substituição espectáculos inofensivos ou da côr do poder. O poder comprou o melhor encenador do momento, deu-lhe meios extraordinários para fazer uma revista que foi um êxito mas que tirou de cena quando se faziam bichas para comprar bilhetes com lotação sempre esgotada.

Eu acredito que a arte e os espectáculos em clima de liberdade são um meio de criticar valores e comportamentos desadaptados, estimular a criatividade, valores e comportamentos de convivencia social. Mas se estão ao serviço de qualquer poder correm o risco de deformar a opinião pública e desviá-la dos seus próprios interesses.