JIIMM: JORNAL INTERNET DE IDEIAS PARA UM MUNDO MELHOR NOVA JUSTIÇA, NOVA CULTURA, NOVOS VALORES  E NOVO ANARQUISMO PARA UMA NOVA ORDEM GLOBAL MAIS... DEPOIS

ANARQUISMO E FUTURO GLOBAL

Por: PIRES PORTUGAL 

ITÁLIA, 2002-08-01

(Nota: A continuação e actualização destas ideias poderá ser fornecida de forma personalizada para órgãos de informação, publicações, LIVROS, PROGRAMAS DE TVFILMES, etc. se pedida por e-mail: piresportugal@hotmail.com ).

1-INTRODUÇÃO

2-ANARQUISMO DO PASSADO, PRESENTE, (2002-08), E FUTURO

3-FAO, FOME, POLÍTICAS, CULTURAS, "NO GLOBAL", CRISTO, MAOMÉ, CIVILIDADES, ...

4-CONSUMISMO E FUTURO GLOBAL

5- OGM E FOME

6- ANARQUISMO, ESPONTANEIDADE, CRIMINALIDADE, ... E FUTURO GLOBAL

7-ANARQUISMO, 68, MRPP, ML, "NO GLOBAL" ... G8 ... E GRANDES CONTRADIÇÕES

8-GLOBALIZAÇÃO CAPITALISTA

9-CAPITALISMO, COMUNISMO ANARQUISMO E CONTESTAÇÃO DAS AMÉRICAS

10-ANTI-USA, TERRORISMO, PACIFISMO E PENA DE MORTE ...

11-ANARQUISMO E CONTRADIÇÕES: GLOBALIZADOS CONTRA A GLOBALIZAÇÃO ...

12-ANARQUISMO DE 1894 E TERRORISMO ACTUAL

 

1-INTRODUÇÃO

O anarquismo tem o mérito de alertar para certos problemas da globalização: "natureza predatória da sociedade capitalista, ... ilusão do crescimento infinito, ... esgotamento de recursos, ... destruição do meio ambiente, ... utilização arbitrária e irracional das tecnologias, ...". Mas algumas das soluções propostas parecem-me utopias que tiveram mais de um século para mostrarem a sua falência. Alguns métodos são o contrário dos seus melhores ideais.

2-ANARQUISMO DO PASSADO, PRESENTE, (2002-08), E FUTURO

Nasceu como expressão máxima da liberdade individual, "existem tantos anarquismos quantos os anarquistas", lutou sempre contra todas as formas de poder e a ordem estabelecida, especialmente contra as hierarquias, propõe um mundo fraterno onde as pessoas livres serão naturalmente boas, colaboradoras, sociais sem necessidade de qualquer poder limitativo, polícia, estado ou leis.

Tal como acontece muitas vezes com os movimentos ideológicos, nos momentos de crise regressa às origens: reeditam as teses dos fundadores com algumas adaptações. Com a globalização da informação através da Internet os anarquistas têm o melhor meio de expressão dos seus ideais: um fórum onde cada um pode escrever o que quiser: www.azine.org .

Um certo anarquismo parece-me o sistema político mais adaptado a um futuro global, com algumas das suas ideias e o contrário de outras: poucos valores são eternos e universais, os hinos nacionais e constituições tornam-se blasfemas com a evolução da ética e dos novos conceitos de civilidade. Mas as hierarquias não devem acabar: devem melhorar e dar poder aos melhores enquanto estiverem no uso das suas capacidades e uma saída digna quando deixarem de corresponder às necessidades sociais. O bom senso dos mais competentes deve estar acima de todas as leis. Os conflitos internacionais devem resolver-se por representantes dos povos com negociações e não com guerras.

Só no dia 2002-07-01 ouvi pela primeira vez alguém condenar Napoleão e exprimir um juízo semelhante ao que faço dele há mais de 30 anos: foi um dos maiores criminosos da História, deixou a França mais pequena do que ao tomar o poder, semeou cadáveres de jovens inocentes de Lisboa a Moscovo e nunca compreendi porque o consideram um herói até em meios católicos que se deviam envergonhar dele. Os ideais da Revolução Francesa tão caros aos anarquistas de "liberdade, igualdade e fraternidade" decaíram no pior absolutismo.

3- FAO, FOME, POLÍTICAS, CULTURAS, "NO GLOBAL", CRISTO, MAOMÉ, CIVILIDADES, SEXO, GATOS, CÃES, CAVALOS E VACAS SAGRADAS...

A FAO pede 24. 000.000.000 de US$ para combater a fome... Bastariam alguns que dessem tanto com Bill Gates deu para a sua fundação para os pobres. Parece que bastariam mais alguns generosos para acabar com a fome no mundo. Bastaria um sistema judicial mais eficiente que sequestrasse os bens das mafias e criminalidade e os desse a associações religiosas e de voluntariado que se ocupam honestamente dos pobres. Dizem que só a Roma deita-se para o lixo o suficiente para alimentar um milhão de pessoas.

Um amigo disse-me: "Só 6% das doações chegam aos mais pobres. Os outros 94% ou ficam nos países ricos ou vão para os ricos dos países pobres". Hoje penso que isto foi verdade com alguns mas há muitas associações de voluntariado que aproveitam o melhor que podem as doações.

Outro amigo italiano que trabalhou como empresário na Nigéria contou-me que tinha um sócio nigeriano por obrigações legais cuja função era só de corromper autoridades. Esteve em palácios de nigerianos com torneiras maciças de ouro, com 12 mulheres, 50 Mercedes, ... tudo ganho sem fazerem mais do que "empresta-nome" de investimentos estrangeiros e corruptores de autoridades e políticos. Muitos povos africanos vivem num estado semelhante ao feudal da Idade Média da Europa, com 700 línguas na Guiné, com escravatura, corrupção, guerras e abuso das ajudas humanitárias. Uma notícia da crónica italiana fala de uma prostituta de luxo que recebeu só de um "scheico" cerca de 100.000 euros, um carro de luxo, um apartamento de 600m2 a Milão e outros presentes.

Há ricos que fizeram fortuna com a produção de benefícios sociais e a sua riqueza continua a contribuir para criar empregos, investigação e melhoramento geral. Outros limitam-se a apoderar-se de recursos naturais, corromper...

É importante uma outra cultura, uma outra política, uma outra ética.

Enquanto numa parte do mundo se morre de fome outra morre por causa do excesso de alimentação. Mais de metade da população dos países ricos sofre por excesso de alimentação. Com cereais que poderiam alimentar 10 vezes mais pessoas, alimentam-se animais que depois produzem uma alimentação duvidosa. Há quem defenda que uma alimentação macrobiótica e vegetariana é mais saudável do que a carnívora. Nem todos concordam mas eu não duvido que pelo menos uma diminuição do consumo de carne em proveito dos cereais e vegetais poderia contribuir para a saúde de muitos ricos e salvar muitos pobres da morte.

Meus pais criavam vacas, ovelhas, porcos, galinhas, coelhos e cavalos com o aproveitamento de alimentos que o ser humano não poderia aproveitar: pastagens, restos das refeições, etc. O Estado, com o dinheiro dos contribuintes, fez uma imoral, injusta e estúpida concorrência a esse tipo de agricultura: deu dinheiro para a produção industrial de animais com base em cereais que poderiam ser consumidos directamente para alimentação humana. Os cereais que poderiam matar a fome ou alimentar saudavelmente 10 pessoas passaram a alimentar animais para produzir má alimentação para uma pessoa.

Os "no global", principais responsáveis do vértice de Roma 2002 não se ter feito um ano antes com suas ameaças de 500.000 a destruir Roma como destruíram Génova no G8, apareceram nas vésperas com sua propaganda populista: os ricos são culpados da pobreza... as patentes dos medicamentos e dos OGM (órgãos geneticamente modificados) são responsáveis pelas mortes...

Mas haverá a mesma investigação e progresso sem patentes e protecção da propriedade intelectual? Não será a investigação e o estudo dos OGM um meio de melhorar a alimentação e reduzir a fome? Os EUA e muitos cientistas dizem que sim, a UE duvida, os "no global" dizem que não.

Hoje todos sabemos que morrem 24.000 pessoas de fome por dia. Todos os que usamos mais do que o necessário somos responsáveis. Na Índia deu-se prioridade à bomba atómica e não se toca nas vacas sagradas enquanto se morre de fome. Em Itália há uns 300.000 cães, muitos deles mantidos numa espécie de prisões, outros com tratamento de luxo que fazem inveja aos humanos que morrem ao frio nas ruas de Roma.

Em vez de dares um peixe ensina a pescar... Como salientou Berlusconi, Itália deu 100.000.000 de euros e está em primeira linha no empenho de recursos materiais e humanos. Penso que Itália está em primeiro lugar mundial no voluntariado e acção social.

Enquanto povos com uma certa civilidade se empenham em reduzir as mortes de fome no mundo leio um título de um jornal italiano ameaças islâmicas: "MATAREMOS 4 MILHÕES DE AMERICANOS". Recordo que os ataques de 11 de Setembro contra EUA partiram de um povo que vivia em grande parte das ajudas humanitárias, muitas delas desse povo que atacaram. Para se ensinar a pescar talvez seja necessário ensinar primeiro que é melhor pescar do que guerrear.

Recordo que Bill Gates veio a Napoli mostrar como a Internet poderia melhorar o mundo, ricos e pobres. Mas os "no global" mandaram centenas de polícias para o hospital e os meios de informação deram mais importância aos polícias presos pela resposta à violência...

4- CONSUMISMO E FUTURO GLOBAL

O "consumismo" ou excesso de consumo é já um problema actual mas será muito maior no futuro, especialmente num futuro global justo. Imaginemos que toda a população do Globo possuía um carro!? Como se resolveria o problema da poluição, da falta de energia, do tráfico, das estradas, do estacionamento?

Nos sistemas capitalistas os que produzem mais bens comerciais, mais úteis com menos custos, ou roubam mais, podem permitir-se mais consumos. Nos comunistas, os "representantes do povo" podem permitir-se mais consumos. Há capitalistas que gastam de helicóptero para ir comer uma vez o que salvaria muita gente da fome. Há comunistas que fazem quilómetros com um pesado camião para comprar uma caixa de fósforos. (Paga o povo).

Neste contexto tem todo o sentido uma campanha contra o consumismo. Mas terá sentido um dia de greve de consumo como promoveu o www.azine.org ? Qual a vantagem de não comprar um dia se tem que se comprar noutro? Só para num dia os vendedores estarem de braços cruzados e noutros dias os compradores esperarem nas bichas? Que se faz com o dinheiro que se economiza no dia em que não se compra? Limpa-se o ... ou compra-se algo outro dia?

Mais do que uma greve de consumo deve fazer-se uma campanha de educação e de ética global do consumo. Há consumos e progressos muito bons do ponto de vista de um futuro melhor e outros muito maus. Com os restos dos alimentos do Hospital da Guarda alimentavam-se vários porcos. Na minha terra toda a gente criava um porco com as "lavaduras", (assim se chamava uma primeira lavagem dos pratos sem detergente em água que servia para alimentar porcos), os resto da comida e algumas ervas daninhas ou fruta e outros alimentos em risco de apodrecer. Com certo "progresso" este mercado ecológico sofreu a concorrência de certas políticas económicas de certos estados que utilizaram o dinheiro dos contribuintes para a criação de porcos com cereais que poderiam alimentar seres humanos. Para se produzir carne de porco para alimentar uma pessoa dá-se ao porco os cereais que poderiam alimentar 10 pessoas. O agricultor sem subsídios do Estado deixou de poder competir com produção industrial. Os restos dos alimentos do hospital da Guarda e de meio mundo passaram a poluir em vez de serem reciclados.

Mais do que combater o consumo é necessário combater a corrupção e incompetência de políticos e políticas, educar os capitalistas e comunistas numa ética global, investir no que pode melhorar o futuro da humanidade e protestar contra os estúpidos consumos que são um perigo para o futuro.

5-OGM E FOME

OS OGM, (ÓRGÃOS GENETICAMENTE MODIFICADOS) SÃO BONS OU MAUS? SÃO UM REMÉDIO PARA A FOME DO MUNDO OU UMA PESTE PAR A SAÚDE HUMANA?

Os "no globais" protestam. No G8 de Génova foi um dos cavalos de batalha das manifestações de protesto. Alguns americanos, vários cientistas e prémios Nobel dizem que os OGM são um passo importante para reduzir a fome do mundo e evitar muitas doenças. Com uma maçã ou uma banana geneticamente modificada poderão em breve substituir custosas vacinas. Outros dizem que as patentes sobre os OGM são responsáveis por muita pobreza. Outros condenam radicalmente os OGM? Onde estará a verdade?

Sendo os anarquistas simpatizantes com os movimentos "no global" tomam instintivamente o seu partido. Este é um daqueles assuntos em que a opinião de um especialista pode ser mais sensata do que milhões de opiniões manipuladas pela informação ou por acontecimentos emocionais.

Os "no global" têm razão em alertar para que nem tudo o que luz é ouro e muitos destes chamados "progressos" podem representar perigos no futuro. Mas sujeitam-se a cair no ridículo ao lutarem radicalmente contra investigações que poderão salvar muita gente.

 

6-ANARQUISMO, ESPONTANEIDADE, CRIMINALIDADE, VIOLÊNCIA, DESTRUIÇÃO... E FUTURO GLOBAL

Um parque de animais foi feito cientificamente. Mas na prática algo falhou: os elefantes matavam rinocerontes, ao contrário do que acontecia geralmente que conviviam pacificamente. Isto fez-me pensar num anarquista que dizia que a criminalidade desaparecia numa sociedade livre... Aqueles elefantes tinham sido separados dos adultos e colocados no parque. Crescendo sem pais e avós desenvolveram comportamentos anormais. Recordo vagamente uma reportagem sobre não sei qual civilização que degenerou com a falta de contacto dos jovens com os velhos. Há psicólogos que dizem que é fundamental para o desenvolvimento das crianças a presença dos avós.

Estes exemplos levam-me a pensar nas possíveis vantagens de uma certa "anarquia", no sentido de espontaneidade sem muitas repressões sociais dos "científicos" que governam e impõem regras, cultura, civilidade e modos de vida. Talvez tenham muita razão os anarquistas que dizem que a criminalidade desaparecia num mundo justo, feliz, sem repressões ... Mas entretanto que fazemos com os que querem matar todos os que não são islâmicos ... os que querem destruir as civilizações que não se identificam com a sua ... eliminar quem não pensa como eles?

Porque será que "muitas pessoas parece que pensam que os anarquistas são adeptos da violência, do caos e da destruição, que se opõe a todas as formas de ordem e de organização, que são niilistas fanáticos que querem rebentar com tudo"? (As palavras entre aspas são reproduzidas do www.zine.org ). As barbaridades do G8 de Génova não foram feitas por anarquistas? Ou limitaram-se a apoiá-los? Essas barbaridades foram fruto da repressão policial? Que fariam sem a polícia? Se os anarquistas não se querem identificar com a violência porque defendem os 10.000 violentos que destruíram Génova e os 500 que destruíram Nápoles num fórum sobre aquilo que me parece mais urgente para melhorar o mundo: a Internet ao serviço da função pública? Eu passei 6 horas numa bicha em Lisboa para uma informação que poderia receber em poucos minutos pela Internet. Milhões de pessoas passam biliões de horas nas repartições públicas com coisas que poderiam ser feitas com poucos "clicks" no computador de casa. Bill Gates veio a Nápoles dizer como se podem evitar esses biliões de horas de trabalho com a modernização da função pública. Outros disseram como se converteriam as formas de trabalhar, quantos empregados especializados farão falta nos próximos anos e o que é urgente estudar-se.

Alguns falidos da sociedade concorrencial capitalista preferem um sistema comunista esperando que o estado dê a todos a garantia de um emprego. Mas o sistema capitalista mostrou que essa concorrência estimula a eficiência e os capitalistas acabam por dar aos desempregados melhores condições do que os empregados comunistas, como se viu nas duas Alemanhas, capitalista e comunista, antes da queda do muro de Berlim. Por outro lado o desemprego estimula a criminalidade e frustração. O sistema comunista preferiu muitas vezes dar empregos inúteis do que desemprego. Penso que qualquer sistema político do futuro deve encontrar meios de ocupar todos os desempregados mesmo em actividades de pouca produtividade mas ecológicas como a reciclagem de materiais, economia de recursos esgotáveis, etc. Aos mais inteligentes deve dar-se mais possibilidades de investigação.

Penso que muitos fariam melhor se ficassem a casa e vissem na Internet os empregos que fazem falta no futuro ou fossem tomar um café e lessem os jornais em vez de irem para a rua deitar fogo aos carros e pedras aos polícias. Em vez de aprenderem com os que não são falidos preferem destruí-los. A Nápoles foi cerca de uma centena de polícias para o hospital e outros tantos manifestantes. Os danos à cidade foram enormes. Os políticos italianos ocuparam-se do caso mais do que dos problemas reais da população. Como o governo era de esquerda defendeu-se a polícia e a instituição. Quando depois Berlusconi já estava no poder, 13 meses depois, foram presos vários polícias provocando a indignação geral: dos 500 violentos que destruíram a cidade e mandaram para o hospital os polícias nenhum foi preso. Só os polícias foram presos. Porquê? Porque certa magistratura da esquerda quis vingar-se da vitória de Berlusconi? Porque em Itália os polícias são os mais miseráveis e bodes expiatórios?

No G8 de Génova o problema amplificou-se: 10.000 violentos, só alguns presos e logo postos em liberdade com espectaculares intervenções da Amnistia Internacional. Se esta se ocupasse dos 4.000 condenados à morte no mesmo ano por motivos ideológicos e religiosos nos regimes islâmicos e comunistas não faria melhor? Os políticos da esquerda passados à oposição disseram que se a polícia tinha sido violenta a Génova e não tinha sido violenta antes era culpa do Governo de direita. Violante, ex-presidente da Câmara dos Deputados de esquerda, parece que não viu a violência de Nápoles no governo de esquerda. Enquanto a justiça se ocupa investigações para nada saem das prisões grandes criminosos e terroristas. Parece-me uma ingenuidade dizer: "Anarquistas, são as pessoas que simplesmente pensam que os seres humanos podem comportar-se de modo razoável sem terem de ser coagidos a isso. É uma noção muito simples, realmente. Mas é aquela noção que os ricos e os poderosos sempre acharam a mais perigosa. Na sua expressão mais simples, as crenças anarquistas giram em torno de duas premissas. A primeira é que os seres humanos são, em circunstâncias vulgares, tão razoáveis e decentes quanto lhes permitam ser, e portanto que se podem auto-organizar e às suas comunidades sem necessitarem que lhe indiquem como. A segunda é que o poder corrompe. Antes do mais, o anarquismo é antes uma questão de ter a coragem de tomar os princípios simples de decência comum pelos quais nos guiamos e de os seguir até às suas conclusões lógicas."

Teorias muito bonitas mas onde funcionaram na prática? Até a relação mais espontânea e escolhida livremente como é o matrimónio não vive sem lutas que terminam muitas vezes frente aos tribunais. A ingenuidade e fantasia continua: "Talvez ajude tomar alguns exemplos do dia a dia:
Se há uma fila para apanhar um autocarro quase cheio, vai esperar pela sua vez e refrear-se de passar à frente das outras pessoas, mesmo na ausência de polícia?
Se respondeu "sim", então está habituado/a a agir como anarquista!"

Quantos passam à frente das filas? Quantos não passariam se não soubessem que existem outros mais fortes, tribunais e polícia?

Os sonhos anarquistas continuam: "O princípio anarquista mais fundamental é "auto-organização": o assumir-se que os seres humanos não precisam ser ameaçados com sanções em ordem a alcançarem um grau de compreensão recíproca de uns com os outros, ou de tratar cada qual com dignidade e respeito.
Qualquer pessoa pensa que é capaz de se conduzir de maneira razoável. Se pensa que a lei e a polícia são necessárias, é apenas porque não acreditem que outras pessoas o sejam. Mas se parar para reflectir, não terão elas o direito de pensar exactamente o mesmo em relação a si? Os anarquistas argumentam que quase todo o comportamento anti-social que nos faz pensar que é necessária a existência de forces armadas, de polícia, de prisões e de governos para controlar as nossas vidas, é de facto causado pelas desigualdades sistemáticas e injustiça que tais forças armadas, polícia, prisões e governos tornam possível."

Se exceptuarmos algumas ordens religiosas onde certas pessoas muito seleccionadas aceitam submeter-se a certas autoridades morais onde é que isso já funcionou?

"É tudo um círculo vicioso. Se as pessoas estão acostumadas a serem tratadas como se as suas opiniões não importam, é provável que se tornem agressivas e cínicas, mesmo violentas"...

Em parte será verdade ... mas como evitar esse círculo vicioso se todos somos diferentes e temos ideias diferentes do que é justo, bom, normal ...etc.?

A lógica anarquista, de esquerda e "no global" é mais ou menos esta: Se Bill Gates vem dizer como se pode fazer com uns "clicks" o que hoje emprega milhões de pessoas e pode ser feito por poucos são mais pessoas que vão para o desemprego, será mais produção de bens, mais diferenças sociais dos que se adaptam, mais poluição ... Mas esquecem que há progressos que reduzem a poluição: se em vez de me deslocar a uma repartição pública e perder 6 horas numa bicha faço o trabalho em casa em poucos minutos, não poluí a cidade com a deslocação, comi em casa com menos poluição e desperdícios que num restaurante, tenho mais horas para fazer amor, assistir a família, fazer qualquer obra de beneficência, produzir bens ou serviços sociais que não são necessariamente poluidores. Os empregados da função pública serão convidados a adaptar-se a outras necessidades e os que não têm capacidades de adaptação devem dar lugar aos jovens desempregados e passarem a desempenhar o papel de avós onde terão talvez mais gratificação e serão mais úteis à sociedade do que emperrarem o progresso.

7-ANARQUISMO, 68, MRPP, ML, "NO GLOBAL", G8 ... E GRANDES CONTRADIÇÕES: DOS SIMPÁTICOS SONHADORES AOS REPUGNANTES BÁRBAROS, TERRORISTAS E FUNDAMENTALISTAS

O movimento de 68 começou por ser o protesto para representarem um teatro na Polónia proibido por ordens de Moscovo. Alastrou a Paris e transformou-se num protesto contra a falta de liberdade na França com estandartes a Lenin e Estaline pensando que eles eram melhores e mais livres. O seu principal líder soube evoluir e é hoje um parlamentar europeu dos verdes.

Depois do anarquismo, um outro movimento que mereceu as minhas simpatias foram os verdes ou movimentos ecológicos. Essa simpatia decresceu ao viver em Itália e pagar a energia muito mais cara por culpa dos verdes: após o desastre nuclear de Cernobil correu pelo mundo um medo compreensível mas exagerado de tudo o que fosse nuclear. Estavam muitas centrais em construção em Itália. Os verdes foram os principais responsáveis de um referendo popular que as proibiu. Somas astronómicas de danos pagos pelos contribuintes. E hoje continuam os danos: Itália paga energia produzida por centrais nucleares nos países vizinhos que em caso de acidente teriam consequências em Itália.

Por outro lado, da Comissão Europeia veio recentemente uma normativa apelando à construção de centrais nucleares para evitar a poluição do efeito serra. Espero que não surja algum desastre nuclear causado por alguém para dizer que tinham razão ...

Recordo Lisboa pintada de vermelho: "NEM MAIS UM SOLDADO PARA ANGOLA". Mário Soares, o mais famoso político democrático do século em Portugal, o melhor representante da vontade popular do após 25 de Abril de 1974, fez a chamada "descolonização exemplar": os soldados regressaram, muitos portugueses deixaram lá os familiares mortos e tudo o que tinham, chegaram militares de URSS, Cuba e DDR,(Alemanha comunista), substituir os portugueses ... regiões riquíssimas estão cheias de bombas, mortos e esfomeados. Se Mário Soares não fosse pressionado pelos MRPP, e pelos ML (marxistas leninistas) não teria feito uma descolonização menos "exemplar", mais lenta, mas talvez com menos mortos, tragédias e guerras? Sempre fui um pacifista mas hoje reconheço que certos pacifismos parciais só servem para dar o poder aos menos pacifistas.

Os representantes dos povos mais ricos e industrializados reuniram-se no G8 de Génova. Na sua agenda estva a fome no mundo. Com a globalização da informação, as imagens das desgraças do mundo canalizaram a sensibilidade mundial não só para o vizinho de casa mas também para o longínquo africano. Aproveitando esse sentimento difuso apareceu um movimento chamado "no global" muito simpático pelas suas ideias de justiça, mas muito antipático pelas contradições dos métodos utilizados por alguns dos "infiltrados" e bem aceites pela generalidade. Muitos dos descontentes, (e sempre os houve e haverá qualquer que seja o regime), associaram-se a este movimento. Os italianos anti-Berlusconi que perderam as eleições procuraram vingança no G8. A RAI, ainda feudo da esquerda, atiçou os ânimos, deu continuamente voz ao "ministro da terrorista", (ex-ministro comunista da justiça). Até Berlusconi, ainda em "lua-de-mel" após as eleições, foi mais diplomático e populista do que eficiente: deu 300.000.000 de liras para alojamento dos "no global", mostrando-se assim simpático e colaborador com os "no global". Mas estes, em vez de retribuírem a simpatia e se manifestarem pacificamente, destruíram a cidade. Danos calculados em 100.000.000.000 de liras, mais de 50 milhões de euros de danos que depois foram pagos na maioria pelos mais honestos contribuintes.

No G8 de Génova alguns manifestaram a mesma ideologia dos terroristas fundamentalistas: ou o mundo se transforma como o queremos nós ou destruímo-lo.

Totalmente ao contrário, no G8 do Canadá, os "no global" transmitiram de forma simpática e espectacular as suas mensagens: mais paz, mais justiça, mais atenção aos bens esgotáveis do Globo. Estou com esses "no global" mas com outras mensagens: "pró glocal": aproveitamento e globalização do melhor local, do melhor de todas as culturas e civilizações para um mundo mais fraterno e convivencial. Lutando contra o que está mal em cada cultura: criminalidade, corrupção, mafias...

8-GLOBALIZAÇÃO CAPITALISTA :

COMENTÁRIOS ("ADVOGADO DO DIABO") à notícia colocada por: José Nuno Matos em 2002-04-14 no fórum anarquista www.azine.org :
"CONTRA A GLOBALIZAÇÃO CAPITALISTA
POR UM MUNDO LIVRE, JUSTO E DIGNO

"A queda do Muro de Berlim, sem qualquer honra, nem glória, marcou o fim do mundo bipolar, dividido em dois blocos rivais. O capitalismo anunciou então a sua vitória, defendendo que esta constituía o fim da história, e prometeu a expansão da paz, liberdade e prosperidade a todos os povos.
A crise do capitalismo atingiu tal nível, que se torna necessário a invenção de Eixos do Mal, e o desenvolvimento de pequenas ( grandes ) intervenções militares no Iraque, no Kosovo, na Colômbia, ou no Afeganistão, que injectem dinheiro na economia.

A perpetuação do actual estado do mundo, só poderá merecer a nossa condenação. Todos os dias morrem à fome milhares de pessoas, florestas são destruídas, trabalhadores são condenados à miséria, ao desemprego e à precariedade, bombas são lançadas em mais um conflito telecomandado pelas indústrias de armamento. Apenas quando destruirmos este sistema, onde um poder coercivo estimula a desigualdade e a exploração, um poder que, como vimos em Gotemburgo e Génova, não hesita em usar da força, poderemos aspirar a um mundo digno, justo e livre."

"ADVOGADO DO DIABO":

A queda do muro foi um passo importante na continuidade histórica para um mundo mais fraterno, universal, pacífico, "glocal": com o melhor do "global" e do "local". Outro passo importante foi entrada da Rússia na Nato, o fim da guerra fria entre comunismo e capitalismo, todos unidos contra o terrorismo, ( e eu acrescento: espero que seja também contra a criminalidade, guerras e violência irracional na resolução dos conflitos).

No encontro da Nato a Roma manifestaram-se 300 "no global". Pergunto a mi próprio se representam a maioria dos "no global" ou só a parte reaccionária, estúpida, "fundamentalista"? Protestam contra um acordo que reduz armas, especialmente as piores: as nucleares, une dois mundos que anos atrás estiveram à beira de provocar uma catástrofe mundial: havia meios de destruir não sei quantas vezes todo o Planeta e por várias vezes estiveram à beira de desencadear uma guerra que não se sabe como terminaria. Os representantes dos povos mais civilizados reúnem-se para assinar acordos, evitar guerras e conflitos com os aplausos da maioria. Estas minorias de protesto são uns marginais reaccionários ou representam os terroristas contra os quais esta coligação está unida? Serão os representantes daqueles bárbaros que destruíram Génova no G8 e transformaram em herói o marginal delinquente que morreu quando atirava com um extintor a um polícia ensanguentado em perigo de vida?

 

9-CAPITALISMO, COMUNISMO ANARQUISMO E CONTESTAÇÃO DAS AMÉRICAS

 

É verdade que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres aumentou nos últimos anos. Mas essa diferença foi só entre os "globalizados" que enriqueceram e os "não globalizados" que continuaram na sua pobreza e atraso de vida. O número dos mortos de fome diminuiu embora o número de habitantes tenha aumentado. É um lugar comum dos anarquistas e "no global" atribuir aos EUA as causas da pobreza de África, América do Sul, etc. Nunca compreendi o porquê. Na realidade os povos com mais relações comerciais com os EUA, (ou mais "vítimas da colonização americana"), foram os que mais enriqueceram depois da 2ª Guerra Mundial: Japão, Alemanha Ocidental, Suíça, etc. Interessante a comparação entre as duas Alemanhas: a rica Alemanha Ocidental e a pobre, atrasada, antiquada ex-DDR, (Alemanha comunista). Como trabalhei nas duas sei do que falo. Com 50 pessoas na ex-DDR fazia algo idêntico a com 5 na França).

Durante 20 anos, (1970-1990), a minha questão política essencial era: o futuro será o capitalista ou comunista? Ao assistir à queda do muro de Berlim, às relíquias do comunismo a serem deitadas para o lixo e à invasão "pacífica" dos comunistas nos capitalistas pensei que o capitalismo tinha dado melhores resultados e o comunismo tinha perdido. Mas, pensando melhor na evolução dos acontecimentos, cheguei à conclusão que ambos aprenderam com os erros e virtudes dos outros: A China abriu-se ao capitalismo e em 25 anos multiplicou por 5 a sua riqueza. Os capitalistas criaram mecanismos sociais inspirados no comunismo. O excesso de consumo capitalista é incompatível com a pobreza de muitos, os recursos naturais são limitados, a poluição ameaça a saúde global e surgiu a consciência social de limitar o progresso excessivo. Esquerda de sistemas capitalistas e movimentos "no global" aliaram-se numa luta contra o capitalismo liberal que teve o seu apogeu no G8 de Génova.

No www.azine.org quase não se falou do Canadá por ocasião do G8. Deram mais notícias da violência e mentiras da polícia italiana no G8 de Génova. Dos EUA quase sempre se fala mal. Da América Central e do Sul fala-se quase sempre em termos de pobres explorados pelos EUA. Nunca percebi porque razão os EUA são acusados de empobrecerem a América Central e do Sul e não são acusados de enriquecer outras nações mais "colonizadas" pela influência americana: Japão, Alemanha, Suíça ...

Numa notícia colocada no www.azine.org por: Chomsky em 2002-05-28 diz-se que os EUA não dão ajuda a Colômbia mas sim intervenção:"Colombia no está recibiendo ayuda de Estados Unidos, está recibiendo intervención. Con esa política se ayuda a unos y se hiere a otros. Hay fuerzas extranjeras que también tienen sus intereses en el país, pero no debe someterse. Depende de los colombianos diseñar su propio futuro."

Transcrevo do sito brasileiro www.sites.uol.com.br/chpennaforte/ verdades importantes com mentiras pelo meio e opiniões duvidosas que eu, (PP) contesto:
"A violência é o reflexo da barbárie cultivada por todos nós (sociedade).
A actual "preocupação" com a violência não tem em seu cerne a preocupação com as camadas pobres que vivem nas periferias e favelas das grandes cidades brasileiras. Para elas a violência é uma coisa "natural". Na periferia de São Paulo ocorrem 60 assassinatos em um final de semana. Isso é normal? Na Baixada Fluminense 30 mil pessoas são assassinadas anualmente. Isso também é normal?"

PP:

Recordo uma notícia que escandalizou toda a Europa, especialmente Itália: Os "esquadrões da morte" mataram alguns "meninos da rua" do Rio acusados de roubarem. Durante mais de dez anos Itália empregou 3 Presidentes e muitos políticos para transferirem uma terrorista de uma prisão americana para uma italiana. Uma assassina negra condenada anos atrás nos EUA à pena de morte causou mais protestos em Itália do que Safiya condenada à morte na Nigéria porque teve um filho fora do matrimónio vítima de uma violação. A condenação à morte do terrorista branco que matou centenas de inocentes nos EUA causou mais protestos em Itália do que muitos milhares condenados à morte por motivos religiosos em regimes comunistas e islâmicos. Os 8 voluntários humanitários ocidentais que estavam para serem condenados à morte no Afeganistão pouco antes do 11 de Setembro 2001 só porque tinham Bíblias católicas escandalizaram menos Itália do que os assassinos condenados à morte nos EUA. Porque razão a morte de muitos inocentes escandaliza menos do que a morte de alguns ladrões, ou a condenação à morte de assassinos e criminosos?

"Infelizmente o Brasil não tem habitantes, mas sim sobreviventes em um país que cada vez mais se assemelha à Colômbia e a outros da África. O velho ditado de que "cada povo tem o governo que merece", é perfeito para o Brasil".
"Sim, é normal no Brasil porque os mortos são pobres e miseráveis.
O que está tornando "chocante" a actual situação é que "pessoas de bem" estão morrendo e não mais pobres, favelados e indigentes. Aí está a preocupação de nossa sociedade. Aliás, o termos "sociedade" é para designar os ricos e as classes médias, não a camada pobre."
Nobres sentimentos, verdades indiscutíveis. Mas depois conclui: "… Que tal não pagarmos os juros da dívida externa e com este dinheiro investimos não em carros de polícia, mas em construção de casas, geração de empregos e na infância?"

PP:

Não será precisamente porque há pessoas e povos com esta "moral" que são necessárias polícias e exércitos? Se uma pessoa ou um povo faz um acordo de empréstimo com juros não deve pagá-los?

"… Outra grande balela defendida pela direita é que nos EUA o desemprego diminuiu. Qualquer pessoa que leia as análises sobre o Trabalho nos EUA são unânimes em afirmar que a classe trabalhadora norte-americana possui uma situação desumana. Jornadas de trabalho estratosféricas, nenhuma garantia trabalhista e a manutenção do emprego dependente do humor dos empresários, é no mínimo patético.
Devemos mencionar um dado muito importante que o "académicos de boteco" sequer abordam: nos anos 90, a economia dos EUA cresceu acentuadamente. Logicamente era inevitável que os empregos fossem gerados em virtude do fôlego económico norte-americano, apesar de sabemos que nem sempre crescimento económico quer dizer mais empregos."

PP:

Consta-me de facto que nos EUA há muita miséria. Só num dia morreram 6 pessoas ao frio em New York. Mas essa miséria e essas diferenças sociais são maiores ou menores do que noutros regimes?

"…O mundo assiste todos os dias um show de incompetência norte-americana seja bombardeando áreas em ruínas ou matando inocentes tal como o execrados terroristas do fatídico dia 11 de setembro. "

PP:

Consta-me que tentaram evitar sacrificar inocentes, ao contrário dos ataques terroristas.

"Ao contrário da Guerra do Golfo, quando a CNN reinava soberana no monopólio da Verdade, hoje temos o "outro lado" para contar a sua versão. Trata-se como todos já sabem da TV a cabo Al-Jazeera. Se não fosse o canal não teríamos acesso às barbáries feitas pelos "bombardeios cirúrgicos" norte-americanos. Eles realmente são "cirúrgicos": atingem os hospitais e postos da Cruz Vermelha do Afeganistão.
"A liberdade de imprensa era um deste preceitos. E agora?
Ao invés de um Pravda (jornal oficial do Partido Comunista da União Soviética), teremos vários Pravdas nos EUA. Aliás, como sempre foi em todo o mundo capitalista: jornais e revistas em profusão, porém representando um único interesse …Aos liberais e defensores dos "direitos individuais", torna-se imperiosa uma pergunta: qual a diferença entre a imprensa cubana e a norte-americana? Creio que posso responder: nenhuma, pois as duas são atreladas ao poder. A imprensa cubana representa os interesses das elites políticas que conquistaram o poder em 1959 , enquanto a norte-americana, representa os interesse do capital em toda a sua amplitude.
…Ao invés de um Pravda (jornal oficial do Partido Comunista da União Soviética), teremos vários Pravdas nos EUA. Aliás, como sempre foi em todo o mundo capitalista: jornais e revistas em profusão, porém representando um único interesse. "

PP:

Embora 94% dos americanos fosse a favor da guerra no Afeganistão, a revista "Time" publicou mais testemunhos contra a guerra do que a favor. O CNN do Brasil e muita imprensa internacional pareceu-me muitas vezes mais favorável a Osana Bin Laden do que a Bush. Convido os sociólogos a fazerem estudos científicos sobre o assunto. A mi parece-me precisamente o contrário.

"…Como não poderia deixar de ser, a mídia capitalista mundial está "tentando interpretar" o que realmente aconteceu no último dia 11 de setembro. A "análise" encontrada pelos "teóricos" de plantão é que o ato foi simplesmente "terrorista". Tal perspectiva reflecte a velha visão maniqueísta do Bem contra o Mal.
A ideia que podemos extrair das análises "gabaritadas" é que o "mundo atrasado" ( o mundo islâmico) está tentando se rebelar contra o "desenvolvimento natural da história" (o capitalismo) : globalização, celulares, hambúrgueres e música pop ocidental. O caro leitor pode ter certeza que são os "grandes nomes" da intelectualidade mundial que estão apresentando essa "análise", basta pegar os jornais para conferirmos.
Como já salientei no último artigo (America's War: Terrorismo X Terrorismo), devemos ver a questão por todos os prismas: o ato terrorista em si, a "mensagem" para o Ocidente e até mesmo, um "choque de civilizações". Sem esquecer, é claro, da grande cota de participação dos norte-americanos no episódio ao criarem os seus próprios algozes.
Numa revista semanal brasileira (01/10) que se diz "indispensável", a "esquerda mundial" (?) é apontada como "incorreta" ao não ter "chorado" como devia (segundo ela) pelos mortos no atentando ao World Trade Center. Aqui no Brasil vários intelectuais de "esquerda" também seguiram este caminho. Há alguns colegas brasileiros conseguiram enxergar até uma "torcida" para Bin Laden!. Será que estão procurando emprego? Ou será que realmente faltaram lágrimas da "esquerda"? Será que ela chorou pouco? Creio que não.
Simplesmente os humanistas e pessoas de bom-senso já choraram muito durante todo o século XX: as bombas de Hiroshima e Nagasaki, as Guerras do Vietnã e da Coreia; os nossos parentes e amigos mortos e/ou torturados durante as Ditaduras Militares na América Latina e no mundo, financiados pelos EUA; os iraquianos fulminados na década passada, os cubanos com suas crianças que ainda sentem a falta de remédios; os líbios que sentem os mesmos efeitos há décadas; a África onde os interesses bélicos e financeiros norte-americanos aumentam a matança…"
PP:

Entre as verdades há factos que podem ter outra interpretação: " as bombas de Hiroshima e Nagasaki" foram uma resposta a uma segunda agressão do Japão aos EUA. Recordo que os EUA foram militarmente agredidos uma vez pelo Japão e não responderam militarmente mas com diplomacia e adiando a entrada na guerra. Só depois do ataque a Port Harbour entrou em guerra. No Vietnã morreram 58.000 soldados americanos por um ideal que a História mostrou ser melhor do que o de Che Guevara: impedir o alastramento da ditadura e do imperialismo soviético. Os mortos causados pelos EUA são insignificantes comparados com os resultados reais e possíveis: a Revolução Russa causou 70 a 100 milhões de mortos só no seu interior. Imaginemos que não encontrava a resistência dos EUA e se alastrava à Europa, África e Américas. Quantas centenas de milhões de mortos se contariam hoje? Imaginemos que o Iraque não encontrava a oposição dos EUA e depois de invadir o Kuwait continuava com outros árabes, com Europa … Será verdade que Saddam dedica 70% do produto nacional para o armamento? E que tem 23 palácios, só um è 3 vezes a Casa Branca americana, enriquecendo a família enquanto muitos morrem de fome?

"…Após a desarticulação do movimento socialista internacional com a queda do Muro de Berlim, parece que novos tempos chegaram. O marco mais importante, sem dúvida alguma, foi a criação do Fórum Social Mundial (FSM). A aglutinação de todos os segmentos sociais sem os sectarismos das internacionais socialistas foi muito importante. Na prática, o FMS tornou-se o locus intelectual e moral contra o atual status quo capitalista. Da esquerda "light" até os movimentos mais radicais, todos puderam ser representados no FMS.
O FSM foi um grande sucesso em suas duas versões. Porém fica uma dúvida: os fóruns se perpetuarão somente como grandes encontros da esquerda mundial? Algo como grandes "seminários" de debates de nossos competentes intelectuais? Ou podemos ser enquanto movimento uma alternativa real na construção de um "norte" para a luta contra o capitalismo?
"Da esquerda "light" até os movimentos mais radicais, todos puderam ser representados no FMS".
Minhas indagações ocorrem em virtude da necessidade de um salto qualitativo no enfretamento da globalização neo-liberal. Torna-se necessário uma articulação mais efectiva com propostas gerais e comuns a todos os grupos que estão na luta contra o capitalismo em sua forma neo-liberal."
Eu penso que lutar contra a globalização e capitalismo è lutar contra a corrente e a lógica da maior eficiência. Penso que para um mundo melhor se deve orientar e corrigir muitos aspectos da globalização e do capitalismo em vez de uma cega contraposição sem apresentar nada de melhor. Estou no pólo oposto de quem diz: "O ponto número 1 é: "somos contra o status quo globalizante e neo-liberal que o capitalismo impõe a todo o planeta". A partir disso, podemos e devemos criar grandes áreas continentais e subcontinentais para o combate ao status quo dentro de uma estrutura de ação organizada. No momento não me lembro quem defendeu esta proposta, mas a criação de uma "internacional" seria muito importante."

PP:

Essa "internacional" não será uma forma de globalização contra outra globalização?

Do panfleto "PORQUE ESTAMOS AQUI PARA PROTESTAR" distribuído a Nova Yorque sito com algumas opiniões:

"Pessoas de todo o país e de todo o mundo vieram a Nova Iorque para protestar contra a cimeira do Fórum Económico Mundial … protestar contra as políticas do Fórum Económico Mundial e as maneiras não-democráticas nas quais estas são feitas. Estas políticas criam pobreza, desigualdade e destruem comunidades por todo o mundo através de instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial."

PP:

Estas afirmações são duvidosas: até que ponto são causa desses males? A sua ausência não provocaria outros males? Vi a destruição bárbara em várias partes do mundo, mas ainda não encontrei uma explicação do porquê nem uma proposta concreta de melhorar a situação.

"Estas políticas levaram ao recentes levantamentos na Argentina, um país com mais de um quinto da população desempregada e mais de metade a viver na pobreza. Esta políticas fazem prevalecer o trabalho quase-escravo em muito do terceiro mundo e até aqui na Cidade de Nova Iorque. Escondidos em edifícios sem janelas, grandes companhias estão a lucrar do extensivo trabalho pago com baixos salários de anónimos imigrantes a trabalhar em condições insustentáveis.
Estas são as companhias que são os membros do Fórum Económico Mundial, um grupo de cerca de 1000 das maiores companhias e seus "CEOs" [Chief Executive Officers] que podem pagar para cima de $30,000 [dólares] para serem membros. Estas não são pessoas que estão interessadas em criar um mundo que é melhor para nós ou para as pessoas de todo o mundo. Elas demonstraram pelas suas práticas de negócios e pelo facto de os seus salários competirem com os PIBs [Produtos Internos Brutos] de pequenos países que se preocupam pouco com os seus trabalhadores e pessoas, mas apenas com dinheiro. Quando é que alguma vez um grupo de pessoas ricas se sentou e fez alguma coisa por si? Eles afirmam estar a tentar resolver problemas do mundo como a pobreza, mas não são sequer tão generosos como o engravatado de Wall Street que pára para dar 25 cêntimos a uma pessoa sem-abrigo.
A estes membros irão juntar-se cerca de 2000 outras pessoas: líderes políticos, líderes religiosos e académicos que simpatizam com os seus programas. Estes são os mesmos políticos que são postos no seu cargo com contribuições de companhias como a Enron, que são retribuídas generosamente em favores políticos. As pessoas no topo da Enron saíram ricas enquanto dezenas de milhares de pessoas perderam os seus empregos e as suas poupanças. A Enron preocupa-se com os seus trabalhadores?
Você e eu não fomos convidados para este encontro, mas estes planos e ideias irão afectar toda a gente no mundo. Estará certo que algumas pessoas ricas e os políticos que elas compraram façam estas decisões por nós restantes? Isto não é democracia."

PP:

Recordo um brasileiro que no G8 de Génova dizia que a democracia estava nos 300.000 manifestantes das ruas e não nos 8 Presidentes reunidos. Dos 300.000 manifestantes resultaram mais de 50 milhões de euros de danos de destruição da cidade de Génova. Dos 8 representantes de milhões de eleitores resultaram medidas para ajudarem não só os milhões dos povos que representavam como muitos outros pobres do mundo.

"Enquanto milhões de trabalhadores são despedidos cada ano neste país, companhias americanas continuam a fazer lucros recorde."

PP:

Em geral as companhias que melhor organizam o trabalho e vão ao encontro das mais urgentes necessidades sociais, têm lucros, investem, crescem, dão e criam trabalho. As piores na organização e nos objectivos vão à falência. Cria-se assim um sistema de organização com o poder de decisão nos mais eficientes. Este mecanismo è muitas vezes alterado por vigarices, corrupções, crimes, etc. Como a justiça tradicional è muitas vezes um árbitro de poderes que confirma a vitória do mais forte os ricos ficam com os lucros e os pobres sem nada. Eu penso que o problema podia ser melhorado com uma nova justiça.

"Enquanto as condições para os trabalhadores de todo o mundo pioram, muitas pessoas são forçadas a deixar as suas casas e a vir cá à procura de melhores vidas. Contudo, os únicos empregos disponíveis para elas são empregos de baixos salários, altamente vulneráveis com pobres condições."

PP:

Os EUA são um povo de emigrados com um sistema político e social dos que dão mais hipóteses aos mais competentes. Muitos prémios Nobel são de emigrados nos EUA.Nova Yorque é a cidade mais cosmopolita do mundo.


"Ao mesmo tempo a competição local para emprego aumenta, o que baixa os salários, aumentando o desemprego e a pobreza à escala mundial enquanto as corporações transnacionais membros-do-FEM lucram e os ricos ficam mais ricos. Enquanto as corporações tiverem o poder para fazer as políticas para o mundo de modo a explorar trabalho barato e passar ao lado de leis locais de ambiente e de trabalho, toda a gente perde.
Agora é o momento para se juntar ao movimento pela justiça global. Se não fosse pelos movimentos populares que desafiam políticas e instituições injustas, a escravatura ainda seria legal, as mulheres não poderiam votar e crianças ainda estariam a trabalhar nas minas.
…Viemos para nos manifestar contra todas as injustiças e esperamos construir um mundo melhor."

PP:

Eu também sou contra as injustiças e por um mundo melhor. Por isso pergunto se será justo que os mais honestos contribuintes paguem os 50 milhões de danos dos manifestantes do G8 de Génova?. Os 8 representantes de meio mundo com diálogo, decisões e compromissos não fizeram mais para um mundo melhor do que os 300.000 que destruíram Génova e dissuadiram da reunião da FAO a Roma e de outros encontros internacionais?

 

 

10-ANTI-EUA, TERRORISMO, PACIFISMO E PENA DE MORTE NA SENSIBILIDADE ITALIANA E ANARQUISTA.

Antes de Berlusconi chegar ao poder, encontrei em Itália um anti-americanismo que nunca cheguei a compreender: os EUA livraram Itália do Nazismo-Fascismo, do comunismo soviético, da miséria económica após as duas guerras mundiais, receberam os emigrantes que classificavam segundo as origens: do Norte eram considerados trabalhadores e do Sul mafiosos.

Numa manifestação pacifista já no tempo de Berlusconi queimaram uma bandeira americana e levantaram bandeiras de Che Guevara. Foi um caso quase isolado criticado por certa imprensa que recordou as ajudas humanitárias dos EUA a Itália após as guerras: "talvez aquela bandeira represente um povo que matou a fome aos pais ou avós do que lhe deitou o fogo".

Itália era o país mais comunista da Europa capitalista. Depois da invasão da Checoslováquia e Hungria, Itália podia ter sido a vítima seguinte do imperialismo soviético. Rios de dinheiro passaram através do PCI para preparar a opinião pública com pacifismos, campanhas contra a pena de morte nos EUA e transformação de guerrilheiros e terroristas em heróis.

È curioso como os pacifistas eram quase exclusivamente contra EUA. Mas sem os EUA não teríamos hoje Itália como ex-Jugoslávia, Albânia e outros miseráveis satélites da ex-URSS?

As campanhas contra a pena de morte nos EUA tiveram em Itália uma importância exorbitante: a condenação à morte de um assassino nos EUA comoveram mais a opinião pública italiana do que milhares de condenados à morte por motivos religiosos ou ideológicos nos países comunistas e islâmicos.

Um ministro da Justiça italiana ficou conhecido como "ministro da terrorista" porque, como ele próprio confessou, uma das prioridades do seu ministério foi transferir a famosa terrorista italiana anti-americana Silvia Baraldini. Queria ir pessoalmente aos EUA para acompanhá-la no regresso triunfal a Itália. Só a oposição de Berlusconi impediu o ridículo de um ministro da Justiça a acompanhar uma terrorista de uma prisão americana a uma italiana.

O sito: www.abolition.ecpm.org começa por referir 500.000 petições à embaixada dos EUA contra a pena de morte. Em 2001 os EUA condenaram 66 à morte, quase todos assassinos. Em regimes comunistas e islâmicos quase só por motivos ideológicos ou religiosos foram condenados mais de 4.000. Porque protestam só com os americanos que em geral condenam assassinos?

Em Itália, antes de Berlusconi e dos ataques terroristas do 11 de Setembro, a pena de morte era um dos temas mais populares para atacar os EUA.

Numa luta de mafia morreram 3 mulheres e 6 pessoas ficaram feridas. Este caso passou nos meios de informação como normal crónica em nada comparada com um único criminoso condenado à morte nos EUA. Milhares de vítimas inocentes da mafia em Itália fizeram menos notícia e inspiraram menos compaixão do que alguns assassinos condenados nos EUA.

Num fórum em Itália antes do 11 de Setembro um assassino americano condenado à morte foi dos que mais opiniões teve.

No sito www.supereva.com sobre a pena de morte apresenta 15 sitos quase todos contra a pena de morte nos EUA. Só depois dos americanos, no final, refere outros dois nestes termos: "A pena de morte é prevista em quase todos os países islâmicos e aplicada com grande severidade ..."e "A China condena à morte cada ano mais do que o resto do mundo ..."

PENA DE MORTE: "BATALHA SACROSSANTA":

No programa "Forum", (Itália, TV4, 2002-05-27), foi apresentado o seguinte caso: uma italiana quer casar-se por procuração com um condenado à morte nos EUA para conseguir dar-lhe a nacionalidade italiana, impedir que seja condenado à morte e extraditado em Itália.

A juiz do programa "Fórum" da tv4 de Itália Tina Lagostena Bssi considerou essa "batalha sacrossanta", elogiou os nobres sentimentos e tentou ajudar ...

Este facto seria banal se não fosse na sequência de outros que revelam a popularidade que tem em Itália a luta contra a pena de morte nos EUA.

Antes do 11 de Setembro de 2001 apareceu em Itália uma pequeníssima notícia de 8 voluntários de acções humanitárias no Afeganistão que estavam para ser condenados à morte porque difundiam a religião católica. A notícia só chegou aos noticiários da TV dois dias depois de eu enviar um e-mail aos meios de informação muito escandalizado por darem tanta importância e lutarem tanto quando um assassino vem condenado à morte nos EUA e tão pouco quando voluntários humanitários são condenados por motivos religiosos. Esses 8 voluntários foram depois libertados pelos soldados americanos na sequência da luta contra o terrorismo.

11-ANARQUISMO E CONTRADIÇÕES: CERTO ANARQUISMO PARECE-ME CHEIO DE GRANDES CONTRADIÇÕES: GLOBALIZADOS CONTRA A GLOBALIZAÇÃO, "LIBERTÁRIOS" CONTRA A LIBERDADE ...

Parece-me que os EUA nasceram com os "anarquistas" da Europa: aqueles que não aceitaram as repressões morais e religiosas da Europa feudal e medieval e emigraram do "velho continente". Criaram a primeira Constituição livre do mundo, a nação mais multicultural, mais tolerante, mais evoluída, mais rica e mais forte. Para certos anarquistas os EUA são um perigo mundial. Milhões de pessoas no mundo economizam biliões de horas de trabalho graças à Internet desenvolvida nos EUA. Em certos meios anarquistas enquanto estão a usar a Internet apelam ao boicote dos produtos dos EUA. A União Europeia deu dinheiro à Ferrari, aos brinquedos dos milionários e ao desporto mais poluidor mas só eu protestei e ninguém me escutou. Vem Bill Gates a Nápoles explicar como a Internet pode revolucionar o futuro do mundo e os protestos causam danos incalculáveis e mandam centenas de pessoas para os hospitais.

O anarquismo será progressista ou reaccionário? Sendo por filosofia de pensamento libertário, deveria estar aberto a novas ideias, à evolução, ao progresso. Como nem toda a evolução e progresso trazem bem-estar para todos parece-me muito bem que tenha uma atitude crítica e de orientação da evolução e progresso. Por exemplo protestarem contra o uso de dinheiro público para brinquedos dos milionários, publicidade a uma marca de maçãs mais bonitas que boas, (com dinheiro dos contribuintes europeus), monumentos à moda, ( a mais justa protesta dos "no global" contra um monumento à moda em Milão passou quase despercebida) ... Mas essa "atracção fatal" aos "no global" e a todos os seus fundamentalismos não serão uma forma reaccionária de anarquismo?

O fórum anarquista www.azine.org é livre e a expressão máxima da globalização da informação. Mas certos anarquistas parecem querer impor ali censuras ... E ofendem quem não tenha uma opinião contrária aos EUA. Haverá algum povo com informação mais livre do que a dos EUA? Recordo que após os ataques terroristas de 11 de Setembro, quando 94% da população americana era a favor da invasão imediata do Afeganistão, a revista mais internacional dos EUA "Time" publicava artigos e cartas dos leitores mais contra a guerra do que a favor.

12-ANARQUISMO DE 1894 E TERRORISMO ACTUAL

No www.azine.org encontrei as últimas palavras de um anarquista condenado à morte em 1894 que me fazem pensar no terrorismo de O. Bin Laden com o mesmo "regresso às origens" dos "profetas" de certas "religiões" ou filosofias políticas.
No anarquismo encontro as ideias mais atraentes e repugnantes de uma filosofia política: por um lado simpatizo com certo anarquismo no sentido de não existirem leis universais aplicadas sempre e em cada caso concreto; por outro lado antipatizo com certos anarquistas que querem impor aos outros as suas ideias e a sua liberdade à lei da bala ou de bombas que matam os que não pensam da mesma forma, como este que agora apresentam como herói:

- "Não é necessário que eu desenvolva aqui toda a teoria dos anarquista. Desejo apenas salientar seu lado revolucionário e os aspectos negativos e destrutivos que me trouxeram a sua presença. Neste momento de amargo e acirrado combate entre a classe média e seus inimigos, sou quase tentado a dizer, como Souvarine em Germinal: "Todas as discussões sobre o futuro são criminosas, já que impedem a destruição pura e simples e retardam a marcha da revolução".

- Eu penso que foram precisamente ideias deste género, destruindo, criando miséria, violência e desordens que criaram as condições para o aparecimento das ditaduras: Salazar em Portugal, Franco em Espanha, Hitler na Alemanha, Mussolini em Itália, Lenine, Estaline ... As ditaduras foram vistas como um mal menor do que desordens, violência e guerras.

- "Como contribuição pessoal à luta, eu trouxe um ódio profundo e renovado a cada dia pelo espectáculo desta sociedade onde tudo é baixo, equívoco e feio; onde tudo serve de impedimento ao fluxo das paixões humanas, aos impulsos generosos do coração, ao voo livre do pensamento. Desejava golpeá-la com tanta força e tanta justiça quanto fosse possível."

- Quem odeia vê tudo negativo. Penso que a agressividade pode ser sublimada em acções mais positivas do que a violência.

- "Assim, preparei uma bomba. Num certo momento, lembrei-me da acusação que havia sido feita em Ravachol. E as vítimas inocentes? Mas logo resolvi esse problema. Os edifícios onde a Companhia Carmoux mantinha seus escritórios eram habitados apenas por burgueses: não haveria, portanto, vítimas inocentes. Todos os burgueses vivem da exploração dos menos afortunados e justos e deveriam pagar pelo seu crime. assim, foi com a mais absoluta confiança na legitimidade do meu ato que deixei a bomba diante da porta dos escritórios da Companhia.
A bomba encontrada no Café Terminus é a resposta a todas as violações à liberdade, às prisões, às buscas, às leis contra a imprensa, às deportações em massa, às guilhotinas. Mas - perguntarão vocês - por que atacar os pacíficos clientes de um café que estavam apenas sentados ouvindo música e que, não eram nem juizes, nem deputados, nem burocratas? Por quê? É muito simples. Os burgueses não faziam distinções entre os anarquistas. Vailant, um homem que agia sozinho, jogou uma bomba; mais da metade de seus camaradas nem ao menos o conhecia mas isso não teve nenhuma importância; era uma perseguição em massa e qualquer pessoa que tivesse ligações com os anarquistas, por menor que fossem, deveria ser caçada. E já que vocês responsabilizam todo um partido pelas acções de um só homem e atacam indiscriminadamente, nós também atacaremos sem escolher as vítimas. Acham talvez que devêssemos atacar somente os deputados que fazem as leis contra nós, os juizes que aplicam essas leis, à polícia que nos prende? Não concordo. Tais homens são apenas instrumentos. Não agem em seu próprio nome. Sua funções foram criadas pela burguesia como uma forma de defesa. Não são mais culpados que qualquer um de vocês. Esses bons burgueses que não tem qualquer cargo público, mas que colhem seus dividendos e vivem ociosamente graças aos lucros obtidos com o trabalho árduo dos operários, eles também devem sofrer a sua quota de vingança! E não só eles, mas todos aqueles que concordam com a ordem vigente, que aplaudem os actos do governo e assim se tornam seus cúmplices; os funcionários que ganham três ou cinco mil francos por mês e que odeiam o povo com fúria ainda maior que a dos ricos, aquela massa estúpida e pretensiosa de gente que sempre escolhe o lado mais forte - em outras palavras, a clientela diária do Terminus e de outros grandes cafés! Foi por esta razão que ataquei ao acaso e não escolhi as minhas vítimas. Devemos fazer com que a burguesia entenda que aqueles que sofrem estão enfim cansados de sofrer. Começam a mostrar os dentes e quando atacarem serão tanto mais brutais quanto tiver sido a brutalidade usada contra eles. Eles não têm nenhum respeito pela vida humana porque os próprios burgueses já demonstraram que não se preocupam com ela. Não cabe aos assassinos responsáveis por aquela semana sangrenta e por Fourmies considerar que os outros são os assassinos.
(...)
Não pouparemos as mulheres e crianças burguesas porque as mulheres e crianças daqueles que amamos também não foram poupadas. Não deveríamos incluir entre as vítimas inocentes, as crianças que morrem lentamente de anemia nos cortiços porque não há pão em suas casas? As mulheres que vão se tornando cada vez mais pálidas trabalhando nas fábricas, esfalfando-se para ganhar alguns tostões por dia e podendo se considerar felizes se a pobreza não as levar à prostituição? Ou os velhos que foram tratados como máquinas durante toda a vida e que agora são lançados ao monte de refugos nos asilos, quando já não têm mais forças para trabalhar?
(...)
Nessa guerra sem piedade que declaramos contra a burguesia, não queremos que ninguém tenha pena de nós. Matamos e sabemos suportar a morte. É portanto com indiferença que aguardo a sentença. Sei que minha cabeça não será a última que vocês cortarão: outras ainda irão rolar, porque os que morrem de fome começam a aprender os caminhos que levam aos cafés e aos restaurantes, aos Terminus e Foyots. Outros nomes serão acrescentados à lista sangrenta dos nossos mortos. Vocês podem ter enforcado em Chicago, decapitado na Alemanha, garroteado em Jerez, fuzilado em Barcelona, guilhotinado em Montbrison e Paris, mas nunca conseguirão acabar com o anarquismo. Suas raízes são demasiado profundas, ele nasceu no coração de uma sociedade que está apodrecendo e se desintegrando. Representa todas as aspirações libertárias e igualitárias que se levantam contra a autoridade. Está em toda a parte, o que faz que seja impossível controlá-lo. Acabará por matá-los a todos!
Por Emile Henry (em A Gazeta dos tribunais, 27 de abril de 1894)"

Estas ideias fazem-me lembrar as de O . Bin Laden para justificar os ataques terroristas de 11 de Setembro contra EUA. Como resultado assistimos ao armamento dos EUA , ajudas humanitárias para os campos de guerra e outros pobres esquecidos. A FAO lamentou a redução das ajudas humanitárias para África depois do 11 de Setembro que teria causado milhões de vítimas.
Em vez da "luta de classes" não seria melhor a colaboração de classes ou de indivíduos dando privilégios e responsabilidades aos mais competentes e que mais contribuem para um mundo melhor?

MAIS: 

"OS INTOCÁVEIS" DA "JUSTIÇA" TRADICIONAL E "JUIZES COM JUÍZO" PARA UM FUTURO MELHOR