CASM

CARTA ABERTA AO "SINDACO" (Presidente da Câmara) DE MILÃO

Li na revista "Famiglia Cristiana", (N.32/1999, p.19), as palavras de Stefano Parisi, "direttore generale del Comune di Milano": "Spenderemo 30 miliardi in tre anni per ripulire le facciate degli stabili del Comune" (gastaremos 3.000.000.000$00 em 3 anos para limpar os muros da Câmara).

Li no "Corriere della Sera"(25.06.99, p.49) que a ATM, (transportes públicos de Milão), gasta outra fortuna colossal com a limpeza dos "grafits" e a instalação de câmaras de video para apanharem esses artistas e tratá-los quase como autênticos criminosos.

Uma jovem de 14 anos apanhada numa dessas armadilhas defendeu-se dizendo que fazia arte. De facto eu considero algumas pinturas murais autênticas obras de arte que me agradam muito mais que alguns dezenhos de Picasso, as esculturas de Botero ou o mais caro quadro de Van Gogh.

Um psicólogo defende os efeitos benéficos dos "grafits", especialmente o estímulo da imaginação. Uma empreza de publicidade que acreditou neste psicólogo contratou um desses artistas perseguidos para pintar todas as paredes dos seus escritórios.

Imagine que este psicólogo tem razão e que os "grafits" desses artistas perseguidos têm mais efeitos benéficos do que muitas obras de arte fechadas nos museus ou o mais caro quadro da História da arte comprado por um milionário japonês para ser visto uma vez e armazenado não se sabe onde.

Imagine que em vez de combaterem os "grafistas" seleccionavam os melhores artistas para sobreporem as suas cores aos "grafits" menos estéticos. Imagine por exemplo que se organizava um concurso de "grafits" com elevados prémios para os vencedores que passariam a cobrir os "grafits" indesejáveis. Imagine que gastava com isso um bilião de liras e gastava 29 biliões para limpar Milão da corrupção, atraso de vida e incompetência nos transportes e na função pública. Por causa de um incompetente na função pública duas pessoas perdemos dois dias. (Cf.:DFFP ). Como nós, milhares de pessoas que poderiam ser úteis à sociedade perdem o seu tempo nas bichas dos serviços públicos, nos transportes e nas burocracias antiquadas. A sociedade teria menos prejuízos se pagasse a alguns incompetentes para ficarem em casa sem fazerem nada em vez de ocuparem lugares que poderiam ser ocupados por desempregados mais honestos e competentes.

Imagine que em vez de combaterem os "grafistas" como criminosos se prevenia a criminalidade, se ocupavam os jovens a risco em actividades sociais, se estimulava a criatividade para tornar os serviços públicos mais humanos, honestos e eficientes.

Imagine que o psicólogo tem razão, que os "grafits" estimulam a imaginação, que os "grafistas" (hoje pobres e perseguidos como foi Van Gogh), são amanhã considerados autênticos artistas com uma função social mais actual e importante do que todas as obras dos museus: despertar e estimular a imaginação dos funcionários públicos para se adaptarem às necessidades da sociedade actual.

Os "grafits" não serão uma arte espontânea como antídoto à falta de imaginação de muita gente?

PIRES PORTUGAL (E-MAIL: piresportugal@hotmail.com).