DFID3MG (=DIÁRIO FILOSÓFICO, 1999,ABRIL, DIA 3)

MORAL DA GUERRA

A NATO bombardeou o ministério do centro de Belgrado responsável pelos massacres no Kosovo. Na opinião do Ocidente é uma represália moralmente justificada: a NATO gasta meios e arrisca vidas humanas para impedir massacres a uma população minoritária vítima de uma agressão. Deste ponto de vista é humanismo puro e não só altamente justificado como moralmente heróico e altruista: despezas enormes para impedir o genocídio de um povo distante.
Do ponto de vista da Jugoslávia, da Rússia e do bloco ex-comunista em geral trata-se de uma agressão externa a um país soberano.
Clinton vai cautelosamente seguindo a opinião pública: a maioria da população americana critica Clinton por não ser mais forte, mais agressivo e mais decisivo na imposição da sua força.

INFORMAÇÃO OU LAVAGEM AO CÉREBRO?

Um mercenário italiano ao serviço de Milosevic dá uma imagem totalmente oposta da guerra no Kosovo: alistou-se por dinheiro mas sobretudo por idealismo, fazendo guerra da "parte justa", para defender os serbios dos "terroristas, traficantes de droga, mafiosos com uniforme, exploradores da prostituição, banda de criminosos" - com estes termos fala dos soldados do UCK. Das violações e casas queimadas diz que sempre foi assim em todas as guerras. Considera os italianos uns estúpidos que foram enganados pela televisão.

HERÓIS E CRIMINOSOS

Um bombardeamento da NATO por engano causou a morte a 73 civis. Se matasse 73 militares seria um acto heroico. Sendo civis foi considerado um acto lamentável, desculpado por ter confundido tratores com tanques. Mas estes 73 mortos na vizinha ex-Jugoslávia na guerra do Kosovo deu menos que falar do que a morte de Trussardi, um estilista muito conhecido através da publicidade à sua marca. Estes 73 mortos causaram muito menos que falar do que uma uma jovem assassino negra americana condenada à morte nos USA por ter assassinado uma idosa para lhe roubar o dinheiro. Na imprensa italiana esta assassina apareceu entrevistada com muita simpatia quase como uma heroina e uma vítima das criminosas leis americanas.
É das coisas que mais me impressiona em Itália: simpatizam e lutam pela defesa dos criminosos de forma desproporcionada em relação às vítimas dos criminosos. Uma terrorista mafiosa condenada na América a 42 anos de prisão deu muito mais que falar e moveu mais a opinião pública pela sua defesa do que a maioria dos milhares de vítimas mortais da mafia e da criminalidade que todos os anos acontecem em Itália.